O Brasil vai se despedindo de 2018 com uma certa dose de melancolia, outra de exaustão e uma terceira de mistura de expectativas. Afinal, 2019 será um novo ano com um novo governo. Quando novembro chega, todos vivemos aquela sensação de que não dá mais tempo de fazer nada, que agora tudo fica para o ano que vem. Na política, não está sendo assim, não. Pelo contrário.
Correndo contra o tempo, os derrotados na reeleição ao Congresso Nacional, e também os novatos, estão travando um estica e puxa com o dinheiro público com dois objetivos: não ir embora sem tirar um naco para selar o fim de mandato e aumentar o buraco dos cofres público que mal se vê o fundo. Após pouco menos de três semanas do segundo turno, Senado e Câmara dos Deputados deram demonstrações inequívocas de irresponsabilidade e desprezo à opinião pública do País.
O aumento de gastos previsto para 2019, que já começa com um rombo de R$ 139 bilhões, foi aprovado mantendo subsídios históricos para grupos privilegiados do setor público e também outros do setor privado, historicamente bem tratados pelo Estado brasileiro em detrimento do conjunto da sociedade. Reajuste para ministros do STF, Rota 2030, penduricalhos e jabutis em outras votações virão embrulhados como presente de grego ao presidente eleito Jair Bolsonaro.
A próxima mordida já está salivando, qual seja, a distribuição entre Estados e municípios do que pode ser arrecadado com a venda da produção excedente do pré-sal, a chamada cessão onerosa. Eunício Oliveira, o presidente do Senado e do Congresso que foi rejeitado pelos eleitores, não esconde a jogatina e chantageia o governo à luz do dia. Se não fizerem como ele quer, nada feito. Certamente ele busca deixar registrado seu legado leviano e negligente com a gestão do País.
O feito de convencer a sociedade de que o dinheiro público era elástico e infinito não é do senador, justiça seja feita. Foram os governos petistas que fizeram malabarismos, ou melhor, pedaladas, para fazer crer que, pelo menos no Brasil, as notas de Real dão em árvore. Caímos “na real” (com minúscula e no feminino) quando o tamanho do rombo foi revelado pela equipe econômica de Henrique Meirelles: serão centenas de bilhões de reais de rombo por até uma década até revertermos o déficit das contas públicas.
Até o ano terminar, tudo indica que ainda veremos mais capítulos dessa novela desastrosa e desatinada do Parlamento brasileiro para evitar que o País caminhe com firmeza para um ajuste fiscal. Novembro já está acabando e dezembro parece ter 21 dias a menos. Acho que todos nós compartilhamos desse sentimento. E assim como dinheiro não tem elástico, o tempo também não, mesmo que ele seja relativo, como já nos provou o físico alemão Einstein. A partir de 1º de janeiro, começará a contagem dos bilhões que faltarão no caixa em 2019 depois da farra dos derrotados e dos ameaçados pela mudança na retórica política que parece ganhar força no País.