Compreender o funcionamento da economia é indispensável para saber como direcionar seus investimentos. No Brasil, fatores como taxa de juros, inflação e câmbio impactam diretamente os resultados — o que torna essencial o conhecimento do tripé macroeconômico.
Esse conceito representa a estrutura sobre a qual se baseia a política econômica do país. Assim, ele embasa os principais instrumentos utilizados pelo Governo para manter a estabilidade e promover o crescimento.
Quer saber como o tripé macroeconômico afeta a economia e seus investimentos? Continue a leitura e entenda como ele funciona!
O que é tripé macroeconômico?
O tripé macroeconômico é um conceito que ilustra os princípios que norteiam a política econômica brasileira e a atuação do Bacen (Banco Central). Ele foi adotado em 1999 e, desde então, passou a influenciar as decisões econômicas do país.
Segundo a presidência do Bacen na época, a adoção desse modelo marcou um novo posicionamento da economia no Brasil. Desse modo, seus três pilares passaram a servir como base para a condução da política monetária e fiscal do Governo.
A taxa de câmbio, que até então era fixa e usada no controle da inflação, tornou-se flutuante e passou a atuar no equilíbrio do balanço de pagamentos. Já a taxa de juros passou a ser utilizada para controlar o avanço dos preços.
Como o tripé macroeconômico é formado?
O tripé macroeconômico recebe esse nome porque se baseia em três pilares que orientam a política econômica brasileira. São eles:
- câmbio flutuante;
- meta de inflação;
- meta fiscal.
Esses três elementos funcionam de forma integrada buscando promover a estabilidade econômica do país. Cada um atua em uma frente — como o controle da inflação, o equilíbrio das contas públicas e a gestão do câmbio — contribuindo para apoiar a estabilidade econômica.
Entenda como funciona cada componente do tripé macroeconômico!
Câmbio flutuante
Até a adoção do tripé macroeconômico, o Brasil se valia do câmbio fixo, também conhecido como âncora cambial. Portanto, o preço do real era atrelado a uma moeda estrangeira, geralmente o dólar, e mantido em uma faixa determinada pelo Governo.
A estratégia permitiu que as moedas tivessem paridade — ou seja, 1 real correspondia a 1 dólar. A medida ajudou a conter a inflação temporariamente, em especial pelo aumento da entrada de produtos estrangeiros no mercado e, consequentemente, da competitividade.
No entanto, com o tempo, o câmbio fixo passou a apresentar desafios. Para manter a cotação do real artificialmente controlada, o Governo precisava dispor de uma quantidade significativa de dólares em seus cofres. Assim, houve a elevação do endividamento do Brasil.
Com a implementação do tripé macroeconômico, o Governo adotou o câmbio flutuante, como visto. A partir disso, o preço do real passou a ser determinado pela oferta e demanda no mercado.
Mas vale destacar que o país segue o chamado câmbio flutuante sujo. Nele, o Bacen pode fazer intervenções para conter impactos negativos da taxa cambial no mercado, por exemplo, com a compra ou venda de reservas de dólar.
A medida trouxe maior flexibilidade para a economia, reduzindo a necessidade de intervenções governamentais constantes. Além disso, a política de câmbio permitiu que ele funcionasse como um mecanismo de ajuste da moeda diante de choques externos.
Meta de inflação
O segundo princípio que sustenta o tripé macroeconômico brasileiro corresponde à meta de inflação. Nesse contexto, cabe ao Banco Central atuar para manter os índices inflacionários em uma faixa previamente estabelecida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional).
O objetivo dessa meta é preservar a estabilidade dos preços, contribuindo para o poder de compra da população e o equilíbrio da economia. O principal indicador usado para acompanhar o cumprimento da meta é o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).
A partir das projeções sobre o IPCA, o Bacen determina a taxa básica de juros — a Selic. Ela costuma ser revista a cada 45 dias pelo Copom (Comitê de Política Monetária), que faz parte do Banco Central.
Caso o IPCA indique uma inflação abaixo da meta para o período, o comitê tende a diminuir a taxa Selic. Assim, o acesso ao crédito é facilitado, já que os juros ficam menores. Consequentemente, o poder de compra da população aumenta e o consumo é estimulado, fomentando a economia, sabe?
Por outro lado, quando a projeção de inflação está acima da meta determinada pelo CMN, é necessário conter os preços. Para tanto, o Copom geralmente aumenta a taxa básica de juros, dificultando o acesso ao crédito e desestimulando o consumo.
Até 1999, a inflação era manejada por diferentes elementos, destacando-se a taxa de câmbio, como você aprendeu. À época, a taxa Selic controlava o balanço de pagamentos e, quando estava alta, contribuía para atrair investidores estrangeiros.
O movimento normalmente levava ao aumento de dólares nos caixas públicos que, como você viu, era útil para equiparar o preço do real ao dólar. Porém, o modelo não se sustentou, levando à ampliação do endividamento do Brasil.
Meta fiscal
A meta fiscal fecha o tripé macroeconômico. Ela também é conhecida como equilíbrio das contas públicas. Portanto, trata-se de um princípio que visa controlar os gastos do Governo brasileiro para que eles não superem a arrecadação de recursos.
Esse elemento surgiu como uma resposta à situação enfrentada pelo Brasil ao final da década de 1990, que envolvia uma grande dívida externa. Até então, a administração pública poderia tomar recursos sem haver um teto de gastos.
A situação levou ao descontrole dos gastos públicos, afetando a capacidade do Governo de colocar políticas públicas em prática. O contexto evidenciou a necessidade de estabelecer um limite e um monitoramento sobre o uso dos recursos.
A resposta para o desafio foi a implementação da meta fiscal. Ela é definida pelo Governo, com aprovação do Congresso Nacional, determinando anualmente o limite de gastos públicos em cada frente, como educação e saúde.
O objetivo é que os gastos sejam inferiores à arrecadação por meio de impostos. Aliás, a meta fiscal foi complementada pela aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal, sancionada em 2000.
Ela estabelece a necessidade de transparência no uso de recursos públicos e as penalidades aplicáveis aos governantes que não a respeitarem.
Para que serve o tripé macroeconômico?
Conforme você aprendeu, a implementação do tripé macroeconômico está relacionada com a busca da estabilidade econômica do país, certo? Assim, a determinação dos seus princípios procurava fortalecer o mercado econômico brasileiro.
Essa justificativa se torna mais compreensível no cenário que precedeu esse posicionamento do Banco Central. Para entender melhor, é necessário voltar no tempo.
Ao final dos anos 1970 e, principalmente, nas décadas de 1980 e 1990, o Brasil enfrentou a hiperinflação. Ela surgiu após a época conhecida como “milagre econômico”, que levou ao alto endividamento externo brasileiro.
Desse modo, essas décadas foram marcadas pelo descontrole inflacionário. O fenômeno desestimulou os investidores estrangeiros e afetou o poder de compra da população.
O período é conhecido pela constante mudança de moedas no país e pela fragilidade econômica, marcada pela perda abrupta do valor do dinheiro. Nessa fase da história brasileira, os preços variavam significativamente ao longo de um único dia.
O cenário começou a mudar a partir de 1994, com o Plano Real e o lançamento da moeda utilizada no Brasil até hoje. Contudo, apesar da estabilidade inflacionária possibilitada por essa política, os riscos de um novo descontrole ainda existiam.
Diante desse cenário, tornou-se essencial adotar um conjunto de diretrizes que garantissem previsibilidade e confiança no mercado financeiro. Foi aqui que os princípios que baseiam o tripé macroeconômico foram traçados.
Eles buscavam prevenir o ressurgimento de cenários de hiperinflação. Porém, o conceito superou essa finalidade que, embora ainda seja importante, soma-se a outros objetivos.
Confira quais são eles!
Fomento ao investimento brasileiro
O tripé macroeconômico busca conferir previsibilidade à economia brasileira. Dessa maneira, ele incentiva a própria população a investir e empreender.
Afinal, se as taxas de juros estão equilibradas e há estabilidade no câmbio, as empresas se sentem mais seguras para expandir suas operações. Paralelamente, os consumidores tendem a ganhar mais confiança para buscar crédito e fazer compras de longo prazo, como imóveis e automóveis.
Além disso, um ambiente econômico estável facilita o acesso ao crédito para pequenos e médios empreendedores. Esse tipo de contexto possibilita que novos negócios surjam e que setores como os de comércio e serviços cresçam continuamente.
Atração de investimentos estrangeiros
Você aprendeu que a meta de inflação, um dos princípios do tripé macroeconômico, objetiva controlar o avanço dos preços. Esse processo faz com que o Brasil se torne mais confiável para os investidores internacionais, ao oferecer menos riscos.
Dessa forma, a política econômica adotada desde 1999 busca atrair empresas e fundos de investimento do exterior. O equilíbrio dos preços os convida a injetar mais capital na economia brasileira, podendo levar à criação de mais fábricas no país, por exemplo — gerando empregos.
Estímulo ao emprego e geração de renda
Tanto os investimentos internos quanto os estrangeiros favorecem a criação de vagas de emprego. Elas também tendem a surgir do ambiente econômico favorável, oferecendo maior previsibilidade para as empresas — que têm a possibilidade de expandir seus negócios.
Ainda, o aumento da taxa de empregabilidade decorre do cumprimento da meta fiscal, que permite ao Governo manter suas contas organizadas. Com isso, ele consegue direcionar recursos para infraestrutura, educação e saúde — setores que geram empregos diretos e indiretos, não é mesmo?
Seja pelo aumento de investimentos públicos ou privados, a criação de vagas de trabalho permite o crescimento da renda da população. Portanto, ela passa a ter mais poder de compra e fomentar a economia interna.
Desenvolvimento de setores estratégicos
A teoria do tripé macroeconômico apoia um cenário econômico mais equilibrado. Com ele, setores essenciais da economia — como agricultura, indústria e tecnologia — podem se desenvolver com mais facilidade.
O motivo é que a estabilidade financeira tende a facilitar a oferta de crédito e incentivos fiscais. Desse modo, as empresas que fazem parte desses segmentos têm a oportunidade de realizar investimentos de longo prazo.
Por exemplo, se os juros estão controlados e a inflação respeita a meta, os agricultores podem acessar financiamentos para modernizar suas produções. A estratégia aumenta sua produtividade e torna os preços mais acessíveis para o consumidor final por haver maior oferta de mercadorias.
Resiliência em momentos de crise
A economia mundial passa por ciclos de crescimento e recessão. Mas um país com fundamentos macroeconômicos sólidos costuma enfrentar momentos de turbulência com menos impacto.
Por exemplo, durante crises globais, como a de 2008, nações com políticas econômicas bem estruturadas conseguiram reagir mais rapidamente. Elas garantiram suporte financeiro às empresas e aos trabalhadores sem comprometer a sustentabilidade da economia no longo prazo.
Como usar o tripé macroeconômico para direcionar seus investimentos?
Até aqui, você conheceu o tripé macroeconômico e os princípios que dão forma a ele. Agora, resta saber como usar esse aprendizado na hora de investir e, assim, fazer melhores escolhas.
Confira como analisar o tripé macroeconômico buscando rentabilizar seus recursos!
Influência da taxa de juros e do controle da inflação
A taxa básica de juros é determinada pela política monetária, exercendo impacto direto nas opções de investimento. Por exemplo, quando o Copom eleva a Selic para conter a inflação, as alternativas em renda fixa tendem a se tornar mais atrativas devido à remuneração atrelada à taxa de juros.
Já em cenários de juros baixos, a renda variável pode oferecer melhores oportunidades de ganhos, embora também existam ativos que se beneficiam da Selic alta.
Os investidores atentos a essas variações têm a possibilidade de optar por títulos indexados ao IPCA, por exemplo, quando a inflação apresenta tendência de alta. Assim, eles conseguem proteger seu poder de compra e obter uma rentabilidade real.
Ajuste da política fiscal e do ambiente econômico
As metas fiscais, que envolvem a gestão das contas públicas, também influenciam o ambiente de negócios e a confiança dos investidores. Uma política fiscal sólida é capaz de reduzir o risco-país e atrair investimentos estrangeiros, resultando em maior liquidez e estabilidade para os mercados.
Por exemplo, quando o Governo adota medidas de austeridade e transparência fiscal, os investidores costumam interpretar a postura como um indicativo de menor risco. Ela pode ser refletida na diminuição dos riscos de crédito e na redução dos custos de captação no mercado.
Impacto das flutuações cambiais
A volatilidade do câmbio é determinante para empresas e investidores, sobretudo em economias emergentes. Uma valorização acentuada do dólar tende a encarecer insumos importados e afetar a margem de lucro de companhias que dependem de produtos estrangeiros.
Nesse contexto, os investidores que monitoram as oscilações do câmbio podem ajustar suas posições. É possível, por exemplo, diversificar a carteira em ativos internacionais ou focar em setores menos expostos à volatilidade cambial.
Ao longo deste texto, você conheceu o conceito de tripé macroeconômico e como ele afeta a economia e os investimentos. Dessa maneira, você pode utilizar seus aprendizados para investir com mais confiança, conforme seus objetivos.
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