Em seu pronunciamento de posse, na tarde desta terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro reafirmou seu posicionamento em relação à economia, o combate à ideologia de esquerda e à corrupção, entre tantos outros temas.
Analistas políticos já esperavam a continuidade do discurso de campanha, que levou o candidato a obter mais de 57 milhões de votos na disputa do segundo turno. Já quem esperava um tom mais agudo do presidente, provavelmente na expectativa de uma transformação radical em vários aspectos da vida nacional, não teve o que queria.
E isso ocorreu porque o presidente conhece a complexidade da conjuntura socioeconômica do país. Sabe que dependerá do Congresso para a aprovação das medidas que pretende adotar o quanto antes e também precisa se entender com os governadores recém-empossados.
Com as finanças esfrangalhadas, os estados têm potencial para virar uma grande dor de cabeça para o governo central. Por isso, o tom de conciliação e a proposta de estabelecimento de um pacto nacional para “reerguer a Nação”.
Para seu eleitorado, Bolsonaro foi direto ao se comprometer com as bandeiras conservadoras de combate à ideologia de gênero e de valorização da família. Para a bancada evangélica, que apoiou maciçamente o candidato do PSL, e que agiu para barrar a indicação de alguns nomes para o primeiro escalão do novo governo, as palavras do presidente soaram como um hino gospel.
Mas é uma tarefa de difícil implementação, que enfrentará muita resistência dos grupos identitários, dispostos a combater tais iniciativas. Além disso, países democráticos adotam cada vez mais leis de ampliação dos direitos das minorias de gênero. Retroceder nesse aspecto terá consequências.
Quanto à economia, num aceno para o empresariado que também esteve do seu lado, o presidente disse que trará “a marca da confiança, do interesse nacional, do livre mercado e da eficiência”.
São as bases de uma proposta para fazer andar a passos rápidos uma economia que há um bom tempo se desloca em ritmo de tartaruga. Bolsonaro acrescentou que “o governo não gastará mais do que arrecada” e deu a garantia “de que as regras, os contratos e as propriedades serão respeitadas”. Paulo Guedes, com certeza, vibrou muito com essa parte da fala presidência.
Para quem questionou e questiona a defesa da democracia por parte do presidente, o pronunciamento de Jair Bolsonaro foi enfático: “Uma de minhas prioridades é proteger e revigorar a democracia brasileira, trabalhando arduamente para que ela deixe de ser apenas uma promessa formal e distante e passe a ser um componente substancial e tangível da vida política brasileira, com o respeito ao Estado Democrático”. Uma afirmação feita diante de ex-presidentes, Congresso, governadores empossados e transmitida para todo o país.
Mas o presidente não abriu mão de combater “os inimigos da Pátria”, a quem ele responsabiliza pelo atentado contra sua vida, em setembro, em Juiz de Fora, e reafirmou sua determinação em liberar a posse de armas para as pessoas sem antecedentes criminais: “O cidadão de bem merece dispor de meios para se defender, respeitando o referendo de 2005, quando optou, nas urnas, pelo direito à legítima defesa.”
Foi um pronunciamento rápido, de pouco mais de 10 minutos, tempo suficiente para que o novo mandatário do país, sem qualquer surpresa, apresentasse as linhas gerais do seu governo.