Quando se trata de economia e investimentos, é bastante comum se deparar com diversas siglas e termos. Por exemplo, há a inflação, a taxa Selic, a liquidez, os aportes, a rentabilidade, os ativos etc. Mas dentre tantos nomes, você já ouviu falar sobre correção monetária?
Essa é mais uma expressão que faz parte do universo financeiro e que nem todos sabem o que significa. Embora não seja amplamente conhecida, é fundamental compreendê-la, afinal, esse termo está relacionado ao seu dia a dia e aos seus investimentos.
Como calcular a correção monetária?
É importante saber como calcular a correção monetária e entender a fórmula que permite calcular esse ajuste, na prática. Para isso, acompanhe o exemplo a seguir, no qual o IPCA é utilizado como índice de referência.
Suponha que você tenha um crédito a receber de R$ 10.000 daqui a um ano, e o valor é corrigido com base no IPCA. Considere que a inflação acumulada no período foi de 4,5%. Nessa circunstância, a correção monetária deverá ser calculada a partir da seguinte fórmula:
valor corrigido = valor original x taxa de correção x período
Substituindo os valores na fórmula, temos:
valor corrigido = 10.000 x 4,5% x 1
valor corrigido = 450
Portanto, a correção monetária do crédito que você tem a receber após um ano, nesse caso, será de R$ 10.450. Simples, não é mesmo?
Além disso, para facilitar ainda mais esse cálculo, o próprio Banco Central disponibiliza uma calculadora de correção monetária. Para utilizá-la, basta escolher o índice e informar a data inicial e final, além do valor a ser ajustado. Instantaneamente, a ferramenta já mostra a quantia corrigida.
O que é correção monetária?
Vamos entender melhor o que é a correção monetária para que o cálculo faça mais sentido. Também conhecida como atualização monetária, é um ajuste aplicado sobre uma quantia para repor a sua perda de valor devido à inflação ao longo do tempo. Para entender esse conceito de forma prática, acompanhe o exemplo a seguir.
Imagine que você tenha R$ 500 e com esse montante consiga comprar 25 produtos em um supermercado perto da sua casa. Daqui a um ano, ao se deslocar ao mesmo estabelecimento, você verá que os R$ 500 já não serão mais suficientes para adquirir os 25 itens, concorda?
Isso ocorre devido aos efeitos da inflação sobre os produtos e o seu dinheiro. Ao longo do período de um ano, é normal que os itens comercializados no supermercado passem por reajustes de preço — em outras palavras, passem por uma correção monetária.
Como resultado, o seu poder aquisitivo é afetado, pois o que você costumava comprar no passado com determinada quantia, agora, exige um montante maior.
Quando um valor sofre correção monetária, significa que ele é ajustado para recompor as perdas reais sofridas em decorrência da inflação. A falta de correção pode gerar prejuízos para as partes envolvidas, pois os valores acordados tendem a se tornar defasados ao longo do tempo.
Como funciona esse tipo de correção?
Após entender melhor o conceito de correção monetária, é válido saber como ela funciona, na prática. No Brasil, a correção monetária é calculada com base em índices oficiais de inflação.
O cálculo da correção monetária é feito multiplicando a quantia original pela variação do índice no período em que o valor ficou defasado. Dessa forma, é possível atualizar o montante para que ele seja equivalente em termos de poder aquisitivo em determinada data.
Principais índices de correção monetária
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e o Índice Geral de Preços (IGP-M) são os dois índices mais utilizados em correções monetárias. No entanto, ainda existem outras quatro opções.
Conheça cada uma delas, a seguir!
IPCA
O IPCA é o índice oficial de inflação do Brasil. Ele é medido pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e tem como base os preços de produtos e serviços consumidos por famílias residentes em áreas urbanas com renda mensal de 1 a 40 salários-mínimos.
IGP-M
Já o IGP-M também é um indicador de inflação, mas é medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ele mensura a variação dos preços de bens e serviços comercializados no atacado, varejo e na construção civil e é utilizado, principalmente, em contratos de aluguel.
INPC
Outro índice usado para correção monetária e que também é medido pelo IBGE é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Ele é semelhante ao IPCA, mas tem como base os preços de produtos e serviços consumidos por famílias com renda mensal de até 5 salários-mínimos.
Selic
A taxa Selic — a taxa básica de juros da economia brasileira — é mais um índice que pode ser utilizado para correção monetária. Ela é definida pelo Banco Central e serve como referência para outras taxas de juros praticadas no mercado.
TR
Além dos índices anteriores, há a chamada Taxa Referencial (TR), cuja responsabilidade de cálculo é do Banco Central. No caso, ela é utilizada na correção monetária de algumas operações financeiras, como a poupança e títulos de capitalização.
Vale destacar que o uso da TR para correção monetária pode ser controverso em determinados casos. Por exemplo, em débitos trabalhistas, a prática já foi considerada inconstitucional. Entretanto, a taxa ainda é válida em diversas aplicações — como correção de contratos de financiamento, correção da poupança etc.
CDI
Por fim, ao pesquisar sobre investimentos, é comum se deparar a alternativas com remuneração atrelada ao Certificado de Depósito Interbancário (CDI). Entretanto, ele não é considerado um índice de correção monetária. Ainda assim, vale a pena conhecê-lo, já que ele pode estar presente nos seus investimentos.
Trata-se de uma taxa de juros que serve como referência para operações financeiras entre bancos e instituições financeiras. Se você investe, por exemplo, em Certificado de Depósito Bancário (CDB) ou já estudou sobre essa alternativa, sabe que muitos deles rendem uma porcentagem do CDI.
Qual índice utilizar para calcular correção monetária?
Conforme você viu, existem diferentes tipos de índices relacionados à correção monetária. Sendo assim, qual deles utilizar? Será que existe um indicador certo, ou melhor do que outro?
Na verdade, o índice de correção monetária a ser utilizado depende do contexto em que ele está sendo aplicado. Por exemplo, se você precisa corrigir o valor de um investimento, pode ser adequado utilizar o IPCA.
Afinal, trata-se de um indicador oficial do Governo para medir a inflação. Caso você queira que o seu dinheiro renda acima dela, é interessante considerá-lo no momento de analisar os resultados obtidos e verificar se o rendimento garantiu ganhos reais.
Por outro lado, se você precisa corrigir um valor de um contrato de aluguel, por exemplo, pode ser mais apropriado utilizar o IGP-M. Isso porque ele reflete melhor as variações de preços na economia, incluindo os preços dos insumos utilizados na construção civil.
Outro exemplo: uma correção monetária trabalhista não costuma utilizar nem o IPCA e nem o IGP-M. Nesse cenário, é comum recorrer ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) e à Selic.
Portanto, para fazer a escolha certa, é essencial entender a situação específica em que a correção será aplicada para, assim, optar pelo índice mais adequado.
Qual a diferença entre correção monetária e juros?
Quando se fala em correção monetária, muitas pessoas acabam associando-a aos juros, como se tratassem da mesma questão. Porém, não é exatamente assim.
Enquanto a correção monetária é uma forma de atualizar o valor de um bem ou serviço conforme a inflação, os juros representam uma taxa cobrada pelo uso de um capital.
Os juros são aplicados em empréstimos, financiamentos e investimentos financeiros, por exemplo, para remunerar o credor ou investidor pelo dinheiro emprestado, ou investido. Já a correção monetária é utilizada para atualizar o valor do dinheiro, de uma dívida ou de um bem, de acordo com a inflação.
Apenas para exemplificar: imagine que você tenha uma dívida para receber de R$ 80.000, mas que ela está atrasada há 2 anos. No momento de fazer a cobrança, é comum aplicar a correção monetária, para corrigir o valor do dinheiro devido à sua desvalorização com o tempo.
Porém, também é comum que haja a aplicação de juros moratórios sobre o capital. Ou seja, juros como forma de penalidade pelo descumprimento do pagamento acordado. Assim, o valor corrigido que precisará ser quitado pelo devedor será superior aos R$ 80 mil.
Aqui, embora muitos pensem que o aumento do montante é resultado apenas da incidência de juros, há também a correção monetária, que atualiza o valor em função dos efeitos da inflação ao longo do período.
Dessa forma, o seu poder de compra foi mantido (correção) e você recebeu uma compensação adicional pelo atraso (juros), certo?
Correção monetária não é aumento
Ao contrário do que muitas pessoas acreditam, a correção monetária não é um aumento. Para entender essa questão de forma mais clara, acompanhe a situação a seguir.
Todo ano, grande parte das empresas no Brasil realiza um reajuste em torno de 5% no salário dos seus funcionários. Porém, isso não costuma ser um acréscimo real, e sim um ajuste para acompanhar o índice de inflação do país.
Na prática, o seu poder aquisitivo não costuma aumentar, ele apenas se mantém. Para que haja um aumento real, a porcentagem acrescida deveria ser superior à inflação acumulada.
Quais são os impactos da correção monetária no cotidiano?
Agora que você aprendeu a calcular a correção monetária corretamente, é interessante conhecer em que áreas esse tipo de ajuste está presente. Esse recurso é importante por ser utilizado no cotidiano de muitas pessoas e empresas.
Para começar, é válido destacar que a correção monetária influencia o valor dos produtos e serviços e, por consequência, o seu poder aquisitivo. Isso pode ser facilmente percebido quando você faz compras no supermercado, leva o seu veículo para abastecer, sai para passear etc.
Além dessa questão, a atualização monetária pode atuar em:
- dívidas;
- empréstimos;
- financiamentos;
- salários;
- pensões;
- benefícios sociais;
- mensalidades escolares e de faculdades;
- processos judiciais;
- indenizações;
- contratos de aluguel;
- investimentos;
- restituição do Imposto de Renda (IR).
Nessas situações, a correção monetária tende a gerar reajustes nos valores com o passar do tempo. A seguir, veja dois exemplos a respeito de como esse tipo de ajuste impacta o cotidiano de quem mora de aluguel e de quem faz investimentos!
Impacto no dia a dia: aluguel
No caso de um contrato de aluguel, a correção monetária pode ser aplicada para atualizar o valor da mensalidade, conforme a inflação. Isso significa que um inquilino pode ter que pagar uma quantia maior a cada ano, mesmo que o contrato não preveja um aumento real no valor do aluguel.
Geralmente, esse tipo de atualização ocorre a cada ano, pois o valor pago agora não terá o mesmo poder de compra no ano seguinte. Nesse cálculo, como você viu, o índice que costuma ser utilizado é o IGP-M, embora o IPCA esteja cada vez mais comum nos contratos.
Impacto nos investimentos
Já no caso de investimentos, a correção monetária pode influenciar a rentabilidade de algumas aplicações financeiras, com a possibilidade de serem corrigidas com base na inflação. Dessa forma, é possível preservar o poder de compra do dinheiro investido.
Alguns exemplos disso estão presentes nos investimentos de renda fixa. Em muitos deles, é comum que as aplicações sejam corrigidas para manter o poder aquisitivo do valor aplicado pelo investidor. É o caso de títulos como o Tesouro IPCA+ e o Tesouro RendA+ — ambos emitidos pelo Tesouro Nacional, órgão do Governo Federal responsável por gerenciar a dívida pública brasileira.
Se você destinar o seu capital a uma aplicação financeira que rende um índice inferior ou apenas equivalente ao da inflação, o seu investimento poderá não proporcionar um ganho real expressivo. É possível, inclusive, sofrer alguma perda de valor, nesse sentido.
Então, se você deseja ter o dinheiro aplicado corrigido, além dos rendimentos, e ainda superar a alta de preços acumulada, precisará estudar as alternativas do mercado que ofereçam esse tipo de vantagem.
Portanto, é fundamental que você entenda o que é a correção monetária, como calculá-la e quais os seus impactos. Afinal, como você pôde ver ao longo deste artigo, ela pode afetar tanto o seu dia a dia quanto o retorno real dos seus investimentos no mercado financeiro.