Isenção de imposto de renda em uma aplicação financeira é algo que arregala os olhos dos investidores pessoas físicas instantaneamente. A preferência por investimentos isentos é tanta que muita gente chega a ficar cético quando ouve que, mesmo com incidência de imposto de renda, uma aplicação pode ter uma rentabilidade líquida maior que a de uma aplicação isenta.

Isso tem muito a ver com o fato de que, frequentemente, as pessoas não compreendem bem como ocorre a cobrança de IR nos investimentos e o que isso implica.

Por exemplo, já falamos aqui no blog sobre como, muitas vezes, o investidor gosta de aplicações isentas de IR pelos motivos errados – por exemplo, por achar que aplicações isentas são necessariamente mais rentáveis ou que investimentos tributados vão dar mais trabalho com a Receita, na hora de declarar imposto de renda.

Neste outro post, inclusive, mostramos que, para boa parte dos investimentos tributados, a incidência de IR não acarreta mais trabalho na hora de prestar contas ao Fisco.

Outra coisa a que os investidores muitas vezes não atentam é o fato de que o IR incide, na maioria das aplicações financeiras, apenas sobre os rendimentos. Isto é, sobre o lucro da aplicação, e não sobre o principal. O imposto não come o patrimônio que você investiu, e sim o que você ganhou como rentabilidade.

Aqui mostramos em que momento e circunstâncias ocorre o recolhimento do imposto de renda em cada tipo de aplicação financeira.

Compare as rentabilidades líquidas

Dessa forma, é sim possível que um investimento tributado seja, mesmo assim, mais rentável que um investimento isento.

Isso porque o certo é compararmos as rentabilidades líquidas, isto é, já descontados o IR e os custos, como taxas de administração e custódia.

O rendimento líquido é o que de fato vai para o seu bolso. Se o investimento tributado tiver um risco maior que o investimento isento, por exemplo, seu potencial de rentabilidade também será maior. Logo, seu rendimento líquido pode sim ganhar da rentabilidade da aplicação isenta.

Mas isso é possível mesmo se compararmos investimentos com nível de risco similar. A comparação é mais óbvia quando analisamos aplicações de renda fixa conservadora.

Diferenças na remuneração ocorrem mesmo na renda fixa

Diferentes investimentos de renda fixa, com nível de risco similar, podem ter sua remuneração atrelada a indicadores diferentes, pagar um percentual diferente de um mesmo indicador ou sofrer cobranças de taxas também diversas.

Por exemplo, títulos públicos Tesouro Selic (LFT) têm sua remuneração atrelada à Selic, enquanto títulos privados com nível de risco parecido, como CDBs, LCIs e LCAs, geralmente têm a remuneração atrelada ao CDI, que anda junto com a Selic, mas costuma ser um pouco inferior.

Além disso, enquanto os títulos públicos geralmente pagam quase que a variação integral da Selic, os títulos privados pagam um percentual do CDI que pode ser de 100%, inferior a 100% ou até superior a 100%.

Os títulos públicos, quando negociados via Tesouro Direto, sofrem a incidência de uma taxa de custódia obrigatória de 0,3% ao ano, podendo ainda sofrer a cobrança de uma taxa de administração da corretora. Ambas afetam a rentabilidade. Além disso, há desconto de IR sobre os rendimentos.

Já os títulos privados em geral não sofrem a cobrança de qualquer taxa. Alguns, como os CDBs, são tributados, enquanto outros, como as LCIs e LCAs, são isentos de IR.

Outra aplicação comparável são os fundos de renda fixa conservadora, que geralmente procuram remunerar 100% do CDI, mas invariavelmente sofrem cobrança de taxa de administração e imposto de renda.

E a poupança? Bem, a poupança paga 0,5% ao mês mais Taxa Referencial (TR) quando a taxa básica de juros é superior a 8,5% ao ano. De 8,5% ao ano para baixo, paga 70% da Selic mais TR. Rentabilidade esta isenta de IR.

Simulação

Quando comparamos todas essas aplicações em um mesmo cenário de taxa básica de juros, vemos que as diferenças de indexadores, de custos e a incidência ou não de imposto de renda podem fazer com que as remunerações líquidas sejam bem diferentes entre si.

A seguir, fizemos uma simulação nas condições atuais: Selic em 7,0% ao ano, CDI em 6,9% ao ano e TR zerada, o que costuma acontecer quando a taxa básica de juros está muito baixa. Nesse cenário, portanto, a poupança remunera apenas 70% da Selic.

Comparamos a caderneta de poupança, um CDB que paga 90% do CDI, um CDB que paga 110% do CDI, um fundo de renda fixa que paga 100% do CDI, uma LCI que paga 90% do CDI e um título Tesouro Selic (LFT) negociado via Tesouro Direto por meio de uma corretora que não cobra taxa de administração, apenas a taxa obrigatória de custódia de 0,3% ao ano.

Consideramos uma alíquota de IR de 15% para as aplicações tributadas, a menor possível, para investimentos com prazo superior a 720 dias (cerca de dois anos). Consideramos também a rentabilidade dos investimentos no vencimento, e não para resgates antecipados. Também supusemos custos realistas para cada tipo de aplicação financeira.

 PoupançaCDB 1CDB 2LCIFundo de renda fixaTesouro Selic (LFT)
Remuneração70% da Selic + TR90% do CDI110% do CDI90% do CDI100% do CDI100% da Selic
Imposto de Renda em 1 anoIsento15%*15%*Isento15%*15%*
CustosIsentoIsentoIsentoIsentoTaxa de administração de 0,3% ao anoTaxa de custódia de 0,3% ao ano**
Rentabilidade líquida ao ano4,90%5,29%6,51%6,19%5,66%5,71%

(*) Alíquota de IR para prazos de aplicação superiores a 720 dias segundo a tabela regressiva do IR válida para as aplicações financeiras.
(**) Taxa de custódia obrigatória. Consideramos uma corretora que não cobre taxa de administração.

É claro que essa simulação não é totalmente realista, pois considera que, durante um período longo de investimento, a Selic e o CDI permaneceriam no mesmo patamar. Ainda assim, ela é válida para compararmos os desempenhos de diferentes aplicações financeiras com nível similar de risco em um mesmo cenário econômico.

Repare que a caderneta de poupança, mesmo sendo isenta de IR, perde de todas as outras aplicações financeiras, tributadas ou não, simplesmente porque a rentabilidade de 70% da Selic mais TR é muito baixa em comparação à rentabilidade das demais.

Repare ainda que a LCI, mesmo sendo isenta, perde de um dos CDBs. Isso porque a LCI paga 90% do CDI, enquanto o CDB em questão paga 110% do CDI. Mesmo tributado, o CDB tem rentabilidade tão maior que a da LCI, que sua remuneração líquida vence.

Finalmente, perceba que os custos com taxas e imposto de renda pesam para o fundo de renda fixa e o Tesouro Selic (LFT), em comparação aos títulos de renda fixa privada.

Moral da história

Em suma, pode uma aplicação isenta de IR render menos que um aplicação tributada? A resposta é: sim! A razão para isso é que rentabilidade bruta e os custos dos investimentos, ainda que num mesmo nível de risco, podem variar bastante. Assim, quando comparadas as rentabilidades líquidas, que é o que realmente importa, as diferenças podem ser grandes.

Isso sem falar na diferença entre a remuneração de um investimento tributado mais arriscado e um investimento isento mais conservador.

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