Depois de quase uma década de crescimento com estabilidade econômica, o Brasil parece que está voltando a ser como era antes: um país meio instável, onde a maioria tem medo de perder o emprego ou investir e se preocupa constantemente com os preços.

É bem verdade que não aproveitamos os tempos de bonança, nem fizemos nosso dever de casa.

O governo gastou como louco, não poupou e não estimulou a poupança. Pelo contrário, a tônica era se endividar para consumir. Como se não bastasse, chegamos a uma crise política repleta de casos de corrupção.

Mas o mundo também não deu trégua. A desaceleração da China prejudica o Brasil e os países latino-americanos, nossos importantes parceiros. Enquanto isso, a recuperação americana atrai o capital estrangeiro que sai correndo de países em crise como o Brasil.

Os brasileiros já deveriam saber: crises vêm e vão e nenhuma bonança é para sempre. Há que se preparar para dias chuvosos. Se é assim em países mais desenvolvidos e estáveis, que dirá por aqui!

A saúde financeira realmente sólida não vive de momento. Como na fábula da Cigarra e da Formiga, quem sobrevive às crises sem grande sofrimento são aqueles que mantêm, em qualquer circunstância, hábitos financeiros saudáveis, foco e disciplina.

Com a ajuda do planejador financeiro certificado (CFP) Janser Rojo, da QI Financeiro Consultoria, e do educador financeiro André Massaro, listamos os sete hábitos que você deve se esforçar para manter sempre, faça crise ou faça sol. Dê uma olhada:

Planejamento

1. Manter um orçamento

O hábito de manter o orçamento nos ajuda a 1) Saber para onde vai o nosso dinheiro; 2) Conseguir cortar o menos importante no tempo das vacas magras e 3) Conseguir separar parte da renda para pagar dívidas ou poupar.

Eu já falei aqui no blog sobre o passo a passo para montar um orçamento doméstico, que começa por anotar suas receitas e despesas para identificar sua situação atual, passando pela identificação dos seus sonhos e de quanto você precisa poupar por mês.

“Um grande gerador de estresse nas pessoas é não ter se preparado. A bonança não é pra sempre. Quem adota o planejamento como hábito, independentemente do cenário, terá uma vida mais tranquila. Vai acumular no período de vacas gordas e sobreviver no de vacas magras”, diz André Massaro.

2. Conversar com a família sobre finanças

Não é só nos tempos difíceis que devemos conversar com cônjuge e filhos sobre o orçamento familiar. Esse deveria ser um hábito de toda família, com reuniões periódicas, para que todos estejam a par da situação financeira e possam contribuir da melhor forma.

Se é tempo de cortar gastos, todos devem estar cientes e fazer sua parte, economizando em contas como luz, gás, água e telefone, por exemplo.

Se os tempos são melhores, é hora de traçar os sonhos que a família quer realizar em conjunto, como aquela viagem de férias, um apartamento novo, uma casa de praia, e assim por diante. Dessa forma, todos contribuem para a poupança com mais disposição.

Consumo

3. Consumir de forma consciente e sustentável

Além de uma necessidade financeira, esta vem se tornando, cada vez mais, uma necessidade social e ambiental. A forma mais saudável de consumir é de forma crítica.

No lado econômico, foque no consumo daquilo que de fato é importante para a sua qualidade de vida e que você pode pagar, e corte o que você paga, mas não utiliza. Dessa forma você realmente conseguirá separar o que é supérfluo do que não é.

Do ponto de vista da cidadania, preocupe-se em consumir produtos de qualidade e que possam durar, em conter o desperdício e a produção de resíduos.

O consumo consciente contribui para a sociedade e também para o seu bolso. A prática protege do endividamento excessivo, e torna você mais consciente sobre o que pode ser cortado quando o cinto tiver que apertar.

“Pessoas críticas conseguem manter a vida em ordem e as suas reservas financeiras no lugar, além de se adaptarem bem aos períodos mais difíceis. Quem consome pouco se sai bem”, diz Massaro.

Geração de renda

4. Cuidar da sua capacidade de gerar renda

A construção de patrimônio e a tranquilidade financeira passam muito mais pela nossa capacidade de gerar renda e poupar com regularidade do que pela capacidade dos investimentos de gerar rentabilidade.

Como ter consistência na hora de poupar é fundamental, cuidar da nossa capacidade de gerar renda é superimportante. Mantenha-se atualizado, invista na sua educação e não relaxe quanto às suas qualificações para o mercado de trabalho.

“No período de bonança, a força estava com os trabalhadores, e essa situação pode ter gerado certo comodismo. Isso não pode ocorrer. O normal no Brasil é o empregador ter força e o empregado ser fraco”, diz Massaro, para quem o país está voltando à sua “normalidade”.

Para o educador financeiro, o brasileiro deve ter uma “preocupação quase obsessiva com sua empregabilidade”.

“Vá além do treinamento que a sua empresa lhe dá. É preciso ter iniciativa. O trabalhador precisa se destacar dos demais quando a situação aperta, precisa ter uma vantagem em relação aos pares”, aconselha.

Investimentos

5. Poupar todo mês

Com o poder de compra estrangulado, o brasileiro tem mais dificuldade de poupar com consistência. Mas este é um hábito que nós deveríamos sempre lutar ao máximo para manter. Corte tudo que for possível cortar antes de suspender a poupança.

É claro que não faz sentido se endividar pagando juros só para manter a poupança. Mas quanto mais tempo você conseguir se manter livre de dívidas e poupando alguma coisinha todo mês, melhor.

Se você já estiver endividado ou até inadimplente, sua poupança pode ser usada para amortizar a dívida, para que você se livre dos juros cada vez mais elevados o mais rápido possível.

Ao poupar, procure fazê-lo sempre no mesmo dia do mês, e de preferência de forma automática, assim que seus rendimentos caírem na conta.

Não se preocupe em adivinhar se o mercado vai melhorar ou piorar. O hábito de poupar permanece, só muda o tipo de produto financeiro no qual você vai investir. Este sim varia conforme as condições econômicas.

6. Manter uma reserva de emergência

Mantenha sempre uma reserva para emergências, como perda de emprego, doenças na família ou situações domésticas que não podem esperar.

Nos tempos de bonança, resista a mexer nesse dinheiro a não ser em casos de verdadeira emergência. Na hora da crise você será grato.

O ideal é que a reserva de emergência seja seu primeiro objetivo de poupança, antes mesmo de qualquer sonho de consumo. Ela deve ficar aplicada em investimentos bem conservadores e corresponder a algo entre três meses e um ano das suas despesas.

Sempre que precisar mexer no seu colchão financeiro, preocupe-se em recompô-lo assim que possível, antes de voltar a poupar para outros objetivos. Se você ainda não tem uma reserva de emergência e puder poupar, já pode começar agora mesmo.

7. Aproveitar as oportunidades

“Tanto na crise quanto na bonança existem oportunidades, sejam de investimento, sejam para realocar seus investimentos”, diz Janser Rojo.

Como já foi dito, o hábito de poupar deve ser permanente, só o que muda são os investimentos escolhidos. Em praticamente qualquer cenário econômico haverá oportunidades, basta ficar de olho.

Nos tempos de economia pujante, em geral a taxa básica de juros está mais baixa e a renda variável se torna mais atrativa, pois as empresas vão bem.

Nos tempos de crise, as ações podem se tornar menos atrativas em função da queda da atividade econômica. Ao mesmo tempo, barganhas na bolsa podem trazer oportunidades únicas de se comprar ações baratas, que vão se valorizar quando a economia se recuperar.

Se a inflação estiver alta, o governo provavelmente subirá os juros para controlá-la, o que vai aumentar a atratividade da renda fixa. Os cenários possíveis são vários, e para cada um deles há investimentos mais indicados.

O importante é tentar adequar os investimentos mais interessantes de cada momento ao seu perfil de investidor e objetivos.

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