As letras de crédito imobiliário (LCI) e do agronegócio (LCA) são títulos de renda fixa emitidos pelos bancos. Elas se parecem com os certificados de depósito bancário (CDB), porém são isentas de Imposto de Renda (IR). Mas será que o investimento em LCI e LCA vale a pena?
Nos últimos anos, as letras de crédito se tornaram mais populares entre os brasileiros. Um dos motivos é a própria isenção de IR, que torna o produto acessível ao pequeno investidor e mais rentável que a poupança e os CDBs, a depender dos títulos comparados. Tudo isso com um risco considerado baixo.
Em quais casos as LCIs e LCAs podem ser um bom investimento?
As LCIs e LCAs costumam representar opções de investimento interessantes para perfis específicos de investidores. É preciso entender quando elas se encaixam melhor em sua estratégia financeira para maximizar seus benefícios, como isenção fiscal e segurança.
Entenda melhor essas situações!
Quando você quer um investimento conservador
LCIs e LCAs são conhecidas por serem investimentos conservadores. Seu nível de risco se equipara ao da poupança e dos CDB, não representando grandes ameaças à carteira. A razão é que elas também contam com a proteção do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
Em caso de quebra do emissor do título, a entidade garante que o investidor não seja totalmente prejudicado. Nessa circunstância, ele é ressarcido pelo FGC em até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ e por instituição financeira ou conglomerado, com um teto global de R$ 1 milhão, renovável a cada 4 anos.
Essa é a mesma cobertura da caderneta de poupança, conta corrente, CDB e letras de câmbio (LC). Em função disso, investidores mais conservadores podem não querer investir mais de R$ 250 mil em uma única instituição financeira.
Além de distribuir o capital para aproveitar a garantia do FGC, lembre-se de considerar a diversificação do portfólio como um todo. Investir em LCIs e LCAs pode ser uma estratégia inteligente, mas integrá-las a outras classes de ativos tende a ajudar a balancear riscos e aumentar retornos.
Ainda, assim como os CDBs, as LCIs e LCAs podem ser prefixadas, pós-fixadas ou híbridas, mas muitas costumam pagar um percentual do CDI, que se aproxima da taxa básica de juros, a Selic. Portanto, elas costumam ser adequadas a quem tem perfil conservador ou um objetivo que exija um investimento de baixo risco.
Mas lembre-se: por se tratar de uma aplicação de baixo risco, a rentabilidade também não costuma ser expressiva. Para obter rendimentos maiores, em geral, é preciso correr um pouco mais de risco — com em títulos que não possuem cobertura do FGC ou alternativas da renda variável.
Quando você pode esperar até o vencimento
Diferentemente de outros investimentos de baixo risco — como poupança, títulos públicos federais e parte dos CDBs —, as LCIs e LCAs não têm liquidez diária desde o início da aplicação. Ou seja, essas letras de crédito não podem ser resgatadas a qualquer momento.
A carência mínima pode ser de 12 ou 36 meses para LCIs e de 9 ou 12 meses para LCAs. Mas os prazos podem variar bastante e você verá detalhes sobre o assunto mais adiante. Passada a carência, algumas letras de crédito permitem o resgate antecipado, mas outras não.
Então é preciso ficar atento às regras propostas no momento de investir. Nesse caso, se houver chance de você precisar do dinheiro antes, pode ser interessante evitar investimentos em títulos cujo pagamento ocorre só no vencimento.
Lembre-se de que antecipar o resgate ou vender o título no mercado secundário pode afetar a sua remuneração, que poderá ser menor do que a que foi combinada inicialmente.
Esse risco de liquidez é o motivo pelo qual as LCIs e LCAs não devem ser usadas para montar sua reserva de emergência. Quando se trata de uma reserva, ela deve estar prontamente acessível a qualquer momento, não só no vencimento.
Quando você quer complementar a aposentadoria
Para complementar a estratégia de aposentadoria, é essencial ter um portfólio diversificado que equilibre risco e retorno de maneira eficaz. Nesse contexto, as LCIs e LCAs costumam ser opções interessantes para investidores focados em construir ou enriquecer sua reserva para o futuro.
A segurança é um dos pilares mais importantes em relação à aposentadoria. Afinal, após anos de trabalho duro, você quer ter certeza de que seu patrimônio estará protegido. Aqui, a proteção do FGC para LCIs e LCAs se torna um ponto positivo.
A eficiência fiscal é outro aspecto crucial na construção de uma reserva de aposentadoria robusta. Quanto menos impostos você paga sobre os rendimentos de seus investimentos, mais rápido seu patrimônio pode crescer.
Com a isenção de IR para pessoas físicas, o rendimento tende a ser mais atrativo a depender das alternativas comparadas.
Ao diversificar seus investimentos com LCI e LCA, você não só protege seu patrimônio contra as flutuações do mercado, mas aproveita oportunidades em diferentes setores da economia. De todo modo, não deixe de considerar seu perfil de risco, horizonte de investimento e objetivos financeiros.
Quando a LCI ou LCA está mais rentável que outras aplicações de renda fixa
Você já sabe que as LCIs e LCAs são isentas de Imposto de Renda e de taxas. Isso faz com que sua rentabilidade seja geralmente maior do que o rendimento líquido das aplicações financeiras similares.
Mas o investimento em LCI e LCA não necessariamente será mais vantajoso do que outras alternativas conservadoras. Tudo depende do percentual do CDI que elas pagam e da data de vencimento. Por isso, é importante comparar.
CDB
Assim como as LCIs e LCAs, os CDBs são emitidos por instituições financeiras. No entanto, eles não estão ligados a setores específicos da economia e são tributados segundo a tabela regressiva do IR. Logo, é preciso comparar a rentabilidade da LCI ou LCA com o rendimento líquido (descontando o imposto) do CDB.
Acompanhe alguns exemplos:
Exemplo 1
Considere uma LCI que paga 80% do CDI e um CDB que paga 95% do CDI. Após 720 dias de investimento, quando a alíquota de IR é de 15%, o CDB se torna mais vantajoso. Para prazos menores, no entanto, a LCI, nesse exemplo, seria mais rentável, já que o imposto teria uma alíquota maior.
Exemplo 2
Por outro lado, uma LCI que paga 85% do CDI tende a ser mais atrativa, neste mesmo cenário em relação ao prazo do investimento, na comparação com um CDB que paga 95% do CDI, por exemplo. Isso porque, descontado o custo de 15% do IR sobre o rendimento, o rendimento líquido da LCI seria superior.
Na prática, para oferecer rentabilidade líquida mais interessante que esta LCI em um prazo inferior a seis meses — quando a alíquota de IR seria de 22,5% sobre o rendimento —, um CDB teria que pagar 110% do CDI.
Para prazos superiores a dois anos, um título com IR remunerando o investir em 101% do CDI já seria suficiente para entregar melhor rentabilidade que a letra de crédito isenta de imposto.
É importante considerar, no entanto, que não é comum encontrar no mercado um CDB com liquidez diária que paga mais de 100% do CDI. Também são raros os títulos desse tipo com vencimento no curto prazo, mesmo considerando bancos pequenos e médios.
Por esse motivo, obter um rendimento de 110% do CDI costuma exigir que o investidor busque um título com prazo maior.
Sendo assim, se a LCI em questão pagar 85% em um prazo de um ano, e o CDB pagar 110% do CDI apenas depois de três anos, a LCI oferece vantagem pelo prazo mais curto — e, portanto, maior liquidez, se esse for um aspecto relevante para o investidor.
Fundos de renda fixa
Além do IR, os fundos de renda fixa conservadora também sofrem a cobrança de uma taxa de administração, que varia conforme o veículo de investimento. Nos grandes bancos, elas costumam ser altas, o que normalmente torna os fundos desvantajosos frente às LCIs e LCAs em qualquer circunstância.
Mas em gestoras e corretoras independentes, os custos reduzidos tendem a tornar os fundos mais competitivos, então vale a pena comparar. Assim, além de comparar os impactos da tributação como foi explicado nos CDBs, considere a taxa de administração, que também afetará a sua rentabilidade.
Nesses casos, dependendo do prazo da LCI ou LCA, ela pode ser mais interessante que o fundo. Agora, se a liquidez diária for fundamental para o investidor, o fundo DI com taxa de administração baixa tende a ser mais atrativo, até porque sua rentabilidade costuma ficar próxima ao CDI.
Tesouro Selic (LFT)
No caso dos títulos públicos Tesouro Selic, eles rendem 100% da Selic — que é bastante próxima ao CDI, ficando um pouco acima dele. Então é preciso fazer o cálculo para identificar os impactos do imposto e compreender qual deve ser a remuneração da LCI ou LCA.
Vale destacar que títulos públicos negociados pelo Tesouro Direto podem ter taxa de custódia de 0,2% ao ano — exceto até o limite de R$ 10 mil em Tesouro Selic.
Quais são as principais mudanças de LCI e LCA em 2024?
Em fevereiro de 2024, foram anunciadas alterações significativas nas regras para investimentos em LCI e LCA, visando aprimorar a transparência e a segurança desses títulos. Você conhecerá as principais alterações a seguir.
Prazo mínimo de carência e vencimento
A mudança nos prazos mínimos de carência e vencimento é uma das alterações mais significativas que ocorreram em 2024. A transição pode influenciar a flexibilidade do investidor, exigindo um planejamento para prazos maiores.
Para as LCIs, o período foi estendido para 36 meses (3 anos) para títulos atualizados mensalmente por índices de preços, como o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Para os demais casos, o tempo mínimo agora é de 12 meses (1 ano).
Já para as LCAs, o prazo mínimo foi ajustado para 12 meses para títulos atualizados por índice de preços. Para as demais aplicações, o prazo mínimo fica valendo para 9 meses.
Com a mudança, os investidores precisarão ter atenção aos prazos. Por outro lado, a condição pode proporcionar rendimentos potencialmente maiores, em especial em títulos atrelados a índices de inflação, como o IPCA.
Uso dos recursos captados
Outra mudança importante é a restrição no uso dos recursos captados por meio das LCAs. Agora, os recursos não podem mais ser utilizados para a concessão de crédito rural que se beneficie de subvenção econômica da União.
A medida visa garantir que o financiamento seja direcionado para operações com condições de mercado, sem o auxílio de subsídios governamentais. Para o investidor, isso pode significar uma maior confiança na estabilidade e na segurança dos investimentos em LCA. Há chance de a restrição ter um impacto positivo na sustentabilidade e na transparência do setor do agronegócio. O motivo é que ela assegura o uso dos recursos em operações que espelham as dinâmicas reais do mercado.