O avanço da tecnologia está oxigenando e trazendo inovações para diversos setores da economia. Nesse cenário, um conceito que tem crescido e ganhado destaque no mercado financeiro é o peer-to-peer (P2P). Você já ouviu falar sobre ele ou sabe como se dá o seu funcionamento?
De empréstimos a investimentos, o modelo P2P está transformando a maneira como as transações financeiras são realizadas, oferecendo uma alternativa disruptiva aos sistemas tradicionais. Logo, é importante entender mais sobre o tema para ver se a opção vale a pena no seu caso.
Quer saber o que é o P2P e qual é seu impacto no mercado financeiro? Então continue a leitura deste artigo até o fim!
O que é o P2P?
O conceito de peer-to-peer, ou ponto a ponto, surgiu no universo da computação. Ele representa um modelo de arquitetura de rede de computadores em que cada uma das máquinas que a integra funciona tanto como servidor quanto cliente.
Portanto, o P2P se baseia na presunção de que todos os participantes têm capacidades e interesses semelhantes. Logo, os indivíduos ou grupos cooperam voluntariamente para realizar um objetivo compartilhado ou para produzir um bem coletivo.
Por exemplo, em uma rede peer-to-peer, os usuários podem compartilhar diferentes tipos de arquivos entre si, como imagens, músicas, vídeos e outros. Ela se contrapõe aos sistemas tradicionais, em que os usuários dependiam de um único servidor para acessar um conteúdo digital.
Esse tipo de rede começou a ganhar bastante força no fim da década de 1990, com o crescimento e popularização da internet. Plataformas digitais como Napster, Kazaa e eMule estão entre as pioneiras na utilização do P2P para o compartilhamento de arquivos, especialmente de áudio (MP3).
Acontece que o conceito saiu da esfera da computação e passou a ser utilizado em outros segmentos, até mesmo o financeiro. Considerando que mais pessoas estão conectadas à internet e habituadas a novas tecnologias, a tendência é que o modelo cresça ainda mais.
Como essa abordagem está trazendo inovação para o mercado?
Após conferir o conceito e um pouco do funcionamento do P2P, pode surgir a dúvida sobre como a abordagem está trazendo inovação para o mercado, certo? Assim como no mundo digital, o peer-to-peer tem aberto muitas portas nos serviços financeiros.
Confira!
Peer-to-peer lending
Se, no passado, fazer um empréstimo demandava o intermédio de uma instituição financeira, o P2P eliminou essa necessidade. Atualmente, por meio de plataformas digitais, o peer-to-peer conecta as pessoas (físicas e jurídicas) que têm recursos financeiros disponíveis com quem precisa de crédito.
Além disso, o P2P lending contribui para a inclusão financeira de pessoas de todas as classes sociais. A razão é que ele possibilita o acesso a serviços que, muitas vezes, são negados ou dificultados com a cobrança de altas taxas de juros pelos sistemas tradicionais.
Uma das primeiras plataformas a fornecer o serviço foi a Zopa, que surgiu no Reino Unido em 2005. A partir dela, muitas outras foram criadas em diferentes localidades ao redor do mundo, cada uma com características e formas de atuação distintas.
Entre as plataformas mais conhecidas estão a Prosper e a LendingClub nos Estados Unidos, a Funding Circle no Reino Unido e a Nexoos no Brasil. No país, a modalidade passou a ter visibilidade em 2011, com a chegada das primeiras fintechs.
A regulamentação da atividade no território brasileiro se deu apenas em 2018, com a publicação da Resolução Nº 4.656/2018, do Banco Central (Bacen). Ela trouxe a sociedade de empréstimo entre pessoas (SEP), disciplinando as operações de crédito e financiamento que abrangem o P2P.
Crowdfunding
O crowdfunding é uma modalidade que viabiliza a captação de recursos para projetos por meio de doações online. Popularmente conhecido como financiamento coletivo, a modalidade P2P foi impulsionada pela disseminação da internet, facilitando a interação entre criadores e apoiadores.
O marco inicial do crowdfunding na internet foi estabelecido pelo músico americano Brian Camelio, que lançou a plataforma ArtistShare, no início dos anos 2000. Nela, artistas podiam apresentar seus projetos aos fãs e apoiadores, que contribuíam financeiramente em troca de diferentes recompensas.
Em 2009, nos EUA, também foi fundada a Kickstarter, uma plataforma de crowdfunding que se tornou uma das mais influentes no segmento. Ela deu abertura para qualquer pessoa ou organização criar uma campanha de financiamento coletivo para seu projeto, com flexibilidade quanto a prazos, objetivos e recompensas.
No Brasil, a modalidade foi regulamentada em 2017 pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) — o órgão que fiscaliza o mercado financeiro. Contudo, em 2022, ela alterou a legislação sobre o assunto por meio da Resolução CVM Nº 88/22.
Com a mudança, o crowdfunding passou a operar por meio de plataformas registradas na CVM. Elas divulgam os projetos, metas de arrecadação, prazos e recompensas. Os interessados podem contribuir com o valor que quiserem, desde que acima do mínimo estipulado.
Se o projeto atingir ou superar a meta de arrecadação, ele será executado. Caso contrário, o dinheiro será devolvido aos investidores. De toda a forma, é importante verificar as condições de cada projeto antes de participar dele, ok?
Criptomoedas
O surgimento das criptomoedas marca o uso do P2P na negociação de ativos virtuais. Em 2008, a primeira a ser lançada — o bitcoin (BTC) — levava em seu whitepaper o título “Bitcoin: A Peer-to-peer Eletronic Cash System”.
Em português, a tradução seria “Bitcoin: Um sistema de dinheiro eletrônico ponto a ponto”. A ideia de sua criação era, justamente, trazer a descentralização para o sistema financeiro. Vale destacar que, na ocasião de sua criação, o mundo enfrentava uma de suas piores crises econômicas — a do subprime.
A quebra do banco Lehman Brothers trouxe desconfiança quanto à rigidez do sistema financeiro convencional, que causou baixas generalizadas nos mercados mundiais. Assim, o autointitulado Satoshi Nakamoto decidiu criar uma moeda virtual criptografada que funcionasse em uma rede P2P.
Com isso, além do bitcoin, Nakamoto inventou a chamada blockchain. O seu funcionamento é semelhante ao de um livro de registros, responsável por anotar todas as transações que envolvem o BTC. Assim, os dados gerados são armazenados em blocos e inseridos em sequência na rede.
Contudo, para um novo bloco ser adicionado, ele precisa ser validado com base nos blocos anteriores. A validação é feita pelos participantes da rede, que utilizam o poder computacional de suas máquinas para resolução de funções matemáticas, recebendo uma remuneração em BTC.
Essa dinâmica permitiu o fortalecimento e expansão do bitcoin, que não depende de um Governo ou instituição financeira para funcionar. O sucesso foi tamanho que a cotação do BTC cresceu exponencialmente, chegando a custar cerca de R$ 330 mil cada unidade, em março de 2024.
Muitas outras criptomoedas e redes blockchains foram criadas após o bitcoin, com um funcionamento semelhante. Considerando o seu potencial de valorização, diferentes investidores e especuladores buscam adicionar essas alternativas em seus portfólios.
NFTs
Com o uso da tecnologia blockchain, foi identificada a oportunidade da sua utilização para finalidades diferentes do mero armazenamento de operações de criptomoedas. Viu-se que ela poderia guardar praticamente qualquer tipo de transação no mundo virtual P2P.
Diante disso, começaram a surgir os primeiros non-fungible tokens (NFTs), ou tokens não fungíveis, em português. Esses são certificados que garantem a originalidade e exclusividade de um ativo em uma rede blockchain — seja uma imagem, vídeo, música, entre outros.
Eles começaram a ser explorados na década de 2010, mas só ganharam fama nos últimos anos. O primeiro NFT foi criado em 2014, ligado a um videoclipe apresentado em uma exposição de arte e tecnologia em Nova Iorque.
Mas o termo non-fungible token surgiu apenas em 2017, quando esse mercado começou a crescer. Em 2021, o NFT “Everydays: The First 5000 Days”, composto por imagens que o artista norte-americano Mike Winkelmann fez diariamente desde 2007, foi vendido por US$ 70 milhões.
Ao longo dos anos, os NFTs passaram a ser usados para diferentes finalidades, como:
- arte e mídia: podem representar obras de arte, memes, músicas e outros conteúdos digitais exclusivos;
- moda: são usados na criação de coleções de roupas, sapatos e acessórios virtuais, para uso em avatares em ambientes digitais imersivos, como o metaverso;
- e-games: são dados aos jogadores para o controle sobre os itens que eles conquistam nos jogos eletrônicos, permitindo a sua troca por criptomoedas ou outros ativos;
- serviços financeiros: facilitam operações financeiras, como empréstimos e financiamentos, usando os tokens como garantia. Assim, se o devedor não pagar, o credor fica com o NFT;
- mercado imobiliário: agilizam a compra e venda de imóveis, com a utilização de contratos virtuais inteligentes que dispensam o intermédio de instituições financeiras.
Quais as vantagens e riscos associados a esse modelo?
Depois de aprender as principais inovações trazidas pelo conceito peer-to-peer ao mercado financeiro, vale explorar quais são as vantagens e desvantagens do modelo.
Confira cada um desses aspectos individualmente!
Vantagens
As vantagens do modelo P2P são significativas para o mercado financeiro. Como você viu, para os tomadores de empréstimos, as taxas de juros tendem a ser mais baixas no peer-to-peer lending do que as oferecidas pelas instituições financeiras tradicionais.
Por outro lado, ser um fornecedor de crédito nessas plataformas pode gerar retornos mais altos em comparação com alguns investimentos convencionais. Entretanto, o P2P oferece maior flexibilidade e transparência, já que os usuários têm mais controle sobre suas operações.
Outra vantagem dos sistemas peer-to-peer é que você consegue captar recursos com o crowdfunding para financiar projetos com os próprios usuários da rede. Isso permite evitar o superendividamento ou ter que lidar com elevadas taxas de juros no mercado.
As redes P2P também trouxeram como benefício a possibilidade de descentralizar as finanças e investimentos. As criptomoedas e NFTs, por exemplo, contam com elevado potencial de valorização, especialmente no longo prazo, podendo ser usados em suas estratégias de investimento.
Considerando os princípios relacionados ao peer-to-peer, o fato de as negociações não dependerem de intermediários agiliza as transações. Esse fator costuma reduzir os custos e a burocracia envolvida nas operações, beneficiando seus participantes.
Riscos
No entanto, o modelo P2P também apresenta desafios. No que se refere ao P2P lending, para quem emprestou o dinheiro, um dos principais riscos é o de inadimplência. Afinal, costuma não haver garantia de que os tomadores de empréstimos pagarão seus credores até o fim da operação.
Em relação ao crowdfunding, nem sempre o interessado conseguirá a quantia necessária para o financiamento do projeto. Já para quem investe e participa do financiamento coletivo, existe a chance de ele não trazer os resultados esperados e até causar perdas financeiras.
No que diz respeito às criptomoedas e NFTs, a volatilidade desses ativos representa um dos seus maiores riscos. Como esses ativos são precificados conforme a lei da oferta e demanda, a ausência de interessados na negociação pode levar a grandes prejuízos.
Além disso, há possibilidade de questões regulatórias representarem um obstáculo para o crescimento do mercado P2P. Tenha em mente que a descentralização das redes desses ativos tende a dificultar o seu controle por meio de legislação, inviabilizando a proteção institucional.
Por consequência, isso facilita a atuação de golpistas e falsários que se aproveitam da falta de conhecimento de muitos usuários quanto a essas novas tecnologias. Logo, é preciso ter bastante atenção antes de alocar seus recursos em qualquer uma dessas alternativas, combinado?
Como investir em alternativas ligadas ao peer-to-peer com segurança?
Sabendo que a descentralização proporcionada pelas redes peer-to-peer pode deixar o participante mais vulnerável, vale conferir como se expor com segurança a alternativas ligadas a esse conceito. A dica para tanto é buscar por investimentos confiáveis e regulamentados no mercado.
Por exemplo, o interessado em comprar criptomoedas ou NFTs encontra diferentes fundos de índice (ETFs) e fundos de investimentos ligados a esses ativos. Ao investir nesses veículos coletivos, você estará seguro de que não cairá em fraudes ou golpes.
Afinal, ambas as alternativas contam com um regramento rigoroso elaborado pela CVM. Elas também precisam seguir critérios de funcionamento específicos. Logo, você terá a proteção institucional presente em diversos outros investimentos disponibilizados no mercado regular.
De todo modo, antes de investir em alternativas como essas, é importante verificar se o seu perfil de investidor e objetivos são adequados a elas. Apesar de serem investimentos regulamentados, por estarem ligados ao universo cripto, eles também podem passar por alta volatilidade.
Como você aprendeu, o conceito de peer-to-peer teve início no universo da informática, mas, ao longo do tempo, chegou a diferentes setores, inclusive o financeiro. Dessa forma, hoje ele abre uma série de possibilidades para atender a necessidades diversas do mercado.
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